“Tolerância zero” para os que apostam ilegalmente

“Tolerância zero” para os que apostam ilegalmente

Suspeitas de jogos viciados já foram manchete por várias vezes só este ano.

Estima-se que os lucros só com as apostas online poderão chegar aos 8,8 mil milhões de euros na Europa.

por Academia   |   comentários 0
Wednesday, April 19 2017

Por cá, em março, uma operação da PJ fez seis detidos no mundo do futebol – 5 futebolistas, todos da II Liga, e um membro da claque Super Dragões do Futebol Clube do Porto, suspeito de ser o intermediário entre os jogadores e os apostadores. No país vizinho, o escândalo rebentou depois de quatro jogadores, o treinador e o dirigente do Eldense terem manipulado o resultado de 12-0, a troco de quantias que podem ter variado entre os 150 mil e os 200 mil euros.

São casos que envolvem números “impressionantes” e que, Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, tem consciência.

O nosso posicionamento perante isso é tolerância zero.”, diz Evangelista em entrevista à revista Sábado.

De forma a contornar esta questão que assombra o futebol português, o Sindicato apresentou um protocolo, em parceria com a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), que suporta um conjunto de atividades para o alerta do fenómeno.

O “Deixa-te de joguinhos” baseia-se, essencialmente, em campanhas de balneário que dão a conhecer a postura que se deve adquirir para resistir, quais os sinais de abordagem e quais os canais para reportar. Canais esses onde se inclui uma aplicação que irá permitir fazer denúncias com segurança. Segundo Joaquim Evangelista, é mais uma ferramenta útil a quem muitas vezes se sente incapaz ou não se manifesta com medo que o seu comportamento possa ter consequências.”

Para além deste programa, um conjunto de medidas que visam a alteração da pena fizeram-se chegar à Assembleia da República – ao que o Marcelo Rebelo de Sousa já fez questão de promulgar, segundo uma nota colocada no site da Presidência da República.

No entanto, Evangelista admite que há “fatores em Portugal que potenciam o fenómeno da viciação”. Não descarta o incumprimento salarial como uma das causas, mas reforça a entrada de “investidores sem escrutínio” ligados a organizações criminosas ou mafiosas. Temos acompanhado os relatórios internacionais, e por exemplo na Ásia há máfias que têm a família do jogador refém”, exemplifica. Também o facto de no modelo de governação do futebol ser predominante a irresponsabilidade e a impunidade e, consequentemente, o dever da cidadania desportiva para reportar os casos ser descurado, em Portugal, um jogo da I Liga pode chegar a movimentar 32 milhões de euros.

Estamos a falar de toda a pirâmide do futebol, é uma ilusão estarmos a olhar só para as competições profissionais. Não é só I e II Liga. Nas competições amadoras isso é uma realidade. Isto movimenta triliões a nível mundial.”, acrescenta, fazendo referência a um jogo do Campeonato de Portugal (3º escalão) que pode fazer lucrar à volta de 122 mil euros, 150 milhões por ano.

Por vezes torna-se difícil reconhecer quando se está perante uma manipulação de resultados. Não é só em campo que a conduta do jogador deve ser questionada. “Há todos os antecedentes e os comportamentos depois do jogo, reuniões que se têm, pagamentos de dinheiro, há isso tudo.”

Em relação aos jogadores envolvidos em polémica, no ano passado, em Portugal, a suspensão foi tomada de imediato e mais tarde, foram aplicadas as devidas medidas de coação .
Será que vale a pena por 5 mil euros, ou até que sejam 10 mil, pôr em causa a sua vida profissional, pessoal e familiar? Porque um jogador que seja conotado com este fenómeno, acabou, está morto.”, questiona-se.

Segundo o Sindicato, a Liga e as entidades do futebol devem ficar encarregues de exigirem lealdade aos que competem. Se algo de anómalo acontecer, a competição deve ser mantida e a própria Liga deve garantir que os jogadores possuem condições económicas para levar até ao fim a sua atividade.

Dada por terminada a época, o clube deve ser sancionado. Se não cumprir com o prazo de pagamento, “pode descer de divisão e pode ficar impedido de inscrever jogadores”. Tudo isto medidas que Joaquim Evangelista acredita serem necessárias para acabar com este fenómeno.

Na Europa, o lucro das apostas online não param de subir: em 2014 eram 7,9 mil milhões de euros, mas este ano é possível que ronde os 8,8 mil milhões. Valores esses que não assustam quando comparados ao mercado ilegal de apostas na Ásia.

As pessoas falam do lucro que a FIFA teve com o Mundial do Brasil, que foi de perto de 4 mil milhões de dólares. Sabem o que eles chamam a 4 mil milhões de dólares no mercado ilegal de apostas na Ásia? Quinta-feira! Porque é a receita que fazem num só dia.”, remata Joaquim Evangelista.

 

Fonte: Sábado

fpf, sindicato dos jogadores profissionais de futebol, viciação de resultados